quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O QUE EU APRENDI - escoteiros

Esse é o grande vídeo da semana. A repórter do Jornal da Band, Marina Machado, fez um gravação sobre escotismo, vamos aguardar, e como de costume nas suas matérias fez um vídeo no youtube contando mais sobre a experiência. Desde o domingo, dia 16, em quatro dias o vídeo já esta chegando nas 2,5mil visualizações. Só hoje foram 500. Vídeo esse muito bom, que ela fala coisas sensacionais, e fala muito bem, mas... sempre tem um mas.

 


O que eu andei pensando depois de ver o vídeo pela primeira vez ontem a noite, e agora lendo os comentários e a repercussão, é em especial sobre o público escoteiro. Hm, como dizer, tipo, digamos... onde a gente erra? e porque nos contentamos com tão pouco?

Erramos em um sentido também humorístico da situação, afinal quantos já se viram em uma situação de ter que explicar "o que é escotismo? o que o escoteiro faz?" e em meio a tantas coisas que a gente pode falar, acaba não saindo nada. E nos contentamos com pouco, explico, não é sempre que a gente consegue material de destaque na mídia, isso é fato. E mesmo que alguns mais hatters só saibam culpar pessoa A ou B, ou equipe A ou B, não é culpa apenas do escotismo. Jornalismo em si não noticia coisa boa, milhares de avião pousam e decolam levando ajuda humanitária e familiares se reencontrando todos os dias, mas aquele que deu problema vira notícia. Milhares de adultos voluntários trabalham em prol da juventude no Movimento Escoteiro, mas aquele que é acusado de abuso sexual vira notícia. Infelizmente é assim. Ainda não existe um "jornal de boas notícias" que ganhe espaço no horário nobre dos canais de TV, então em meio a tanta tragédia, e coisa ruim, temos que disputar espaço com milhões de outras notícias boas que acontecem no Brasil e no mundo. Assim é o jornalismo, assim é a vida. Não precisa ser estudante, jornalista, ou trabalhar com comunicação para perceber isso.

Acredito que é válido a auto crítica em dizer que erramos sim na comunicação escoteira, ou se ao menos não erramos, engatinhamos e não conseguimos crescer. Em nível nacional melhorou e muito, ENIC e Escritório Nacional levaram a comunicação da instituição a outro nível de poucos anos atrás. Particularmente tenho me envolvido há cerca de três anos, e além de ajudar é notável a chance de aprendizado. A nível regional, cada estado tem a sua realidade, aqui no RS não é mentira dizer que, infelizmente, todo ano a ERIC bomba em um período e depois morre. Nesse momento é quase como um coma induzido, mas tem cura. E em nível local, ai sim o contexto e a realidade de cada um é que irão nortear os caminhos que seguem a comunicação. Existem Grupos em cidades menores do interior que conseguem espaço na mídia com muito mais facilidade, ou então tem pessoas no Grupo que trabalham na área ou tem conhecimento do funcionamento. O famoso eu conheço alguém, que conhece alguém, que conhece um cara que trabalha no jornal.

E essa mídia não é apenas o jornal, TV, rádio local, mas a começar pelo site da própria Região que está pronto e a serviço dos Grupos, como um site, blog, fanpage do próprio Grupo, e para isso funcionar precisamos de pessoas capacitadas nos Grupos e Distritos. Uma equipe regional sozinha, seja de cinco ou vinte pessoas, dificilmente consegue saber o que acontece em uma região escoteira. E note que estou falando de comunicação, que é um assunto mais de 'segundo plano' no escotismo, do que se comparado a programação de acampamento e aplicação do programa. Digo isso porque aqui no RS, estado com muito acesso a informação escoteira, ainda existem pontos com adultos usando POR de até duas versões atrás da que existe hoje. Ou seja, nesse sentido, falar em comunicação externa é um passo muito grande para o homem chegar a lua, se nem ao menos conhecemos a realidade da nossa própria terra.

Voltando ao vídeo da Marina, tudo o que ela fala é o que talvez a gente sempre quis falar, mas por falta de treinamento ou oportunidades não o fez. Treinamento me refiro ao treinamento de mídia para jovens e adultos - como responder perguntas, como se portar na TV, a formação de jovens correspondentes que em outros países funciona muito bem, cursos de comunicação mais abrangentes e mais voltados ao nível local - que ensinem como escrever notícias, como convencer o jornalista de que a atividade do seu Grupo deve aparecer no jornal. Inúmeras ações a serem desenvolvidas, e que existem pessoas capacitadas para fazerem isso. Porém temos um calendário cheio, a área não recebe tanto interesse dos adultos e jovens como poderia receber, é complicado organizar eventos e ter quórum mínimo, desafios que o próprio escotismo coloca para si. E enquanto não resolvermos cada um desses desafios, é mais prático observar o que acontece, esperar que comunicadores caiam do céu, lidar com a verba pequena, ou inexistente, reclamar do que é feito (sempre tem quem reclame), e seguir fazendo um trabalho de formiguinha, para não dizer quase amador no sentido de dar maior relevância para o escotismo. Amador? Produzimos material de muita qualidade, mas que dificilmente ultrapassa a barreira do próprio público escoteiro.

E ao nos depararmos com esse vídeo fantástico da repórter da Band, ao ver pelos comentários do pessoal, é como se os escoteiros fossem os Minions e a Marina o Gru. Uuuuuóóóóó (leia como um minion) E oportunidade como dito antes, é também ter conhecimento de como fazer, e isso não tem como cobrar do público escoteiro. Afinal, ninguém é obrigado a saber comunicar. A oportunidade pode estar em enviar o release, a notícia, para o jornal da sua cidade; em o jovem gravar vídeos como o da Marina, simples e direto, e postar no seu canal do youtube - PC Siqueira e Felipe Neto ficaram famosos assim, não é difícil; em saber quem são as pessoas da Equipe Regional de Comunicação do seu estado, e como fazer para enviar notícias, receber apoio; oportunidades existem ao monte, resta saber enxergar elas e agarrar quando elas aparecerem.

O meu MAS do início do texto, é esse momento de que um vlog de uma jornalista tem ganhando uma repercussão, merecida, enorme do público escoteiro. MAS, tantas outras coisas existem e são feitas e porque não conseguimos também ter mais jornalistas falando como a Marina sobre como é maravilhoso o escotismo? OU, porque mesmo já sabendo, por nossas próprias experiências, de que tudo o que ela disse é verdade, ficamos tão felizes com algo tão simples como o óbvio de que ser escoteiro é bom? É como se a Marina, e o seu vídeo em especial, tivessem caído do céu para reforçar nosso espírito e orgulho escoteiro. Não sei vocês, mas eu acho muito engraçado. Toda e qualquer demonstração de orgulho de ser escoteiro eu sempre acho engraçado.

No ano passado fizemos duas publicações voltadas ao tema de orgulho escoteiro na fanpage dos EscoteirosRS, e foram até então, as duas de maior alcance até hoje, algo de 15mil pessoas, e acredito não haver ainda outra que supere. Porém, as duas publicações não dizem nada. Nada, porque agora penso e falo como um jornalista que se depara com essas publicações, "Olha, escoteiros felizes demonstrado seu orgulho. Como posso usar isso no meu jornal?" Talvez use pela audiência que vai trazer, duvido que a Marina esperasse que o vídeo em QUATRO DIAS, fosse o sexto mais visto do seu canal, e que vai aumentar, em um canal com sete anos de existência. Enquanto imagens e textos de orgulho escoteiro BOMBAM, notícias de projetos - quando ficamos sabendo - são esquecidas e contém pouca interação nas redes sociais. Nesse ponto que quero chegar ao tratar do MAS sobre o vídeo no início desse texto, eu, você, escoteiro, jovem, adulto, valorizamos realmente o que importa de divulgação do escotismo? Vale pensar. Com a experiência de equipes de comunicação eu digo, tentamos fazer o melhor possível.

;)

Alguns links legais:
Representando o Movimento Escoteiro
Dicas para site de Grupo Escoteiro
Manual de Mídia Escrevendo Notícias
O que um Escoteiro faz? - EscoteirosRS
Brincando de Super-Heróis - EscoteirosRS

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Mudanças necessárias de lideranças e #votojoven

Nossos vizinhos argentinos estão contando os dias para a sua Assembleia Nacional que ocorre dias 22, 23 e 24 de novembro, e ela vem embalada com uma importante campanha de participação e empoderamento juvenil, algo que aqui no Brasil continua sendo difícil de trabalhar. A campanha é movimentada pela hastag #votojoven sendo de bastante repercussão por meio da Rede de Jovens, ganhando apoio a cada dia de jovens e adultos conscientes, da Argentina, de outros países da Região Interamericana e também do escotismo mundial. 

Belen Río, Coordenadora da Redes de Jovens da Argentina, recentemente postou esse texto no seu perfil pessoal, que compartilho aqui. 

"Há algum tempo, escuto como resposta generalizada de muitos adultos quando o assunto é fortalecer a participação juvenil o famoso e repetitivo: '(os jovens) não estão preparados.' Em primeiro lugar, é uma resposta sem fundamento razoável. Em segundo, seria muito bom definir a palavra 'preparados'. Preparados de maneira intelectual? Por meio de razões, decisões, experiências?
Idade? Anos de escotismo? Ter uma Insígnia da Madeira?

Baden-Powell quando iniciou esse grande desafio do Movimento Escoteiro confiou nos jovens. Confiou na capacidade de decisão, de desenvolvimento e criatividade, diferentes e inovadores comparado a um adulto. Confiou que através dos seus ensinamentos ia criar pessoas úteis, felizes, com objetivos e sonhos para a sociedade. Essa confiança que BP depositou nos jovens, através do tempo tem se modificado, ao chegar ao ponto que a expressão 'O Movimento Escoteiro é um movimento por jovens e para jovens' quase não tenha tanta relevância.

Faz mais de cem anos que este desafio se iniciou, e com o passar do tempo, as mudanças foram existindo. Porém, lamentavelmente o eixo fundamental da participação juvenil é o que mais modificou. Não será hora de reivindicar o que BP plantou há tanto tempo e tão bem funciona desde o princípio? Eu quero o voto jovem!"

Apoio dos Assessores Juvenis do Comitê Mundial Escoteiro apoiando a causa Argentina
Pois então, não é muito diferente no Brasil, trazendo para o nosso contexto seja no nível local, regional ou nacional. Qualquer um um pouco mais por dentro da organização da instituição, concordando ou não com as decisões tomadas, sabe que esse é um assunto, digamos, de bastante reflexão, para não dizer polêmico. Poderia ter sido diferente no caso do vestuário - o qual sigo defendendo a sua existência, porém sei que não agradou a todos -, pode ser diferente na formação de lideranças locais e distritais, pode ser diferente no trabalho da Rede de Jovens Líderes. Temos exemplos bons e ruins da nossa associação e das demais em todo o planeta, resta saber escolher as boas ideias e transformar em ações.

Vamos trazer essa reflexão ao nível local que talvez fique mais fácil para que todo mundo possa refletir sobre o que acontece diretamente ao seu redor. E vou mais longe do que apenas o voto jovem dos argentinos. A nova Visão Mundial do Movimento Escoteiro, aprovada na Conferência Mundial realizada em agosto desse ano na Eslovênia, diz que "Até 2023, o Escotismo será o mais importante movimento juvenil do mundo, possibilitando que 100 milhões de jovens sejam cidadãos ativos que inspirem mudanças positivas em suas comunidades e no mundo, baseados em valores comuns."

O que nós temos feitos em relação a isso?
De que maneira a nossa cidade e a região podem ser protagonistas nesse processo?
Estamos com as pessoas certas para orientar os rumos de um crescimento em qualidade e quantidade que preze por um escotismo focado no jovem e na comunidade em que ele está inserido?
Se o escotismo terminasse hoje, quem sentiria a nossa falta?
Somos realmente relevantes para a sociedade a ponto de sermos o maior e mais importante movimento para jovens no mundo?

Dentro do Grupo Escoteiro, que com muito esforço e dedicação, adultos voluntários oferecem o escotismo a centenas de jovens em cada município. Porém, enquanto a organização do todo? De que bastam encontros mensais entre os responsáveis por cada Grupo onde pouca produtividade acontece, se são os voluntários de cada Grupo os responsáveis por isso, e ainda enfrentam problemas como perca de sede, falta de incentivo a atividades importantes, informações filtradas, regras inventadas. 

Porém, mesmo assim ainda há pessoas que se julgam portadoras de um poder que não existe, mas pela omissão de muitos esse poder acaba por mostrar quem realmente as pessoas são. Esses voluntários poderiam fazer muito mais. E quando as pessoas mostram quem são, e as demais se omitem ou não sabem além da visão estreita que infelizmente existe no escotismo, o que acontece depois, ou deixa de acontecer, só vira mais um item em uma extensa lista de problemas da organização escoteira. 

E quem perde com isso tudo é o jovem e a sociedade. Enquanto houver adultos voluntários que preocupam-se mais em manter uma posição erroneamente hierárquica, do que preocupar-se em apoiar jovens e adultos voluntários em fazer escotismo relevante para a sociedade, algo de muito errado esta acontecendo. Precisamos de líderes e não chefes e subordinados. Uma maçã podre pode contaminar toda uma cesta de novos e prósperos frutos. Mesmo sem que os novos frutos saibam da metade do que já se passou nessa grande cesta ao longo dos últimos anos. Mas acredite, uma hora você vai precisar se envolver e ser parte da mudança, não apenas um coadjuvante que observa tudo de longe achando que esta tudo bem.  Entre fazer as coisas bem feitas ou mal feitas, o pior é se omitir. Nada justifica ser cego, surdo e mudo, e não ver e entender o que acontece diante dos seus próprios olhos, de buscar a informação verdadeira em um mundo cada vez mais comunicativo, de ouvir os dois lados de uma mesma história antes de dar sua opinião e sair fazendo sua assinatura em papéis genéricos de falso poder.

A Belen cita que 'O Movimento Escoteiro é um movimento por jovens e para jovens' O nosso POR, para quem tanto gosta de Regras, diz claramente que "O Escotismo é um movimento educacional de jovens [...] que conta com a colaboração de adultos" (Regra 001 - Definição do Escotismo) e que "O propósito do Movimento Escoteiro é contribuir para que os jovens assumam seu próprio desenvolvimento" (Regra 002 - Propósito do Escotismo). Um movimento DE jovens, PARA QUE OS jovens assumam seu próprio desenvolvimento, COM a colaboração dos adultos, não estou inventando nada, é o POR quem diz.

Semana que passou houve no facebook longas conversas sobre a atual importância da Rede Nacional de Jovens Líderes dos Escoteiros do Brasil, propondo até a sua extinção, alegando de que sua tarefa já foi cumprida e de que a Rede em si corria apenas atrás do próprio rabo. Essa mesma Rede que na Argentina tem nos últimos meses, movimentado o mundo em prol de uma ideia básica no escotismo, que é valorizar a opinião do jovem. Não nego que a Rede no Brasil precisa mudar o seu método de trabalho. Em 2009 quando tive conhecimento da Rede de Jovens, e o que me permitiu conhecer e praticar um escotismo completamente diferente do que apenas se conhecesse a realidade do meu nível local, a Rede mudou ao longo desses anos. Enquanto ganhou importância em alguns pontos, outros deixou a desejar, e todos nós, participantes da Rede somos "culpados" por isso, e ninguém é perfeito.

Porém, querer o fim da Rede de Jovens? (sem mais estar na Rede) Colocar a culpa no Núcleo atual? Não vamos exagerar os fatos. Ao mesmo tempo que o Núcleo espera que a Rede seja pró-ativa, a Rede espera que o Núcleo os relembre que a Rede existe, aí também não dá. Acho que esse é um primeiro passo para que os jovens participantes da Rede façam uma avaliação do porque ela estar ou não cumprindo com os seus objetivos. Antes de sugerir acabar com a Rede de Jovens, que é apenas UM dos meios de formação de liderança dentro do escotismo - nem o mais importante, e nem obrigatório - é preciso acabar com dirigentes que se acham donos de Grupo ou de Distritos, acabar com inscrições caras para atividades de formação, acabar com as funções múltiplas dentro da instituição, entre outros. Coisas das quais eu também já fiz, e hoje penso diferente. Esse final de semana irá acontecer mais um Encontro Nacional da Rede, com uma programação até agora muito boa, lá será o lugar de Rede e Núcleo talvez começarem a conversar sobre a mudança que a Rede precisa. Afinal, tudo segue em constante mudança, e uma Rede de Jovens não seria diferente nesse processo.

O voto jovem da Argentina pode até parecer distante de nós, um engano. E além disso, o voto jovem é apenas um item a ser debatido e comentado, não podemos enxergar o voto literalmente como diz o nome, apenas um voto. O voto jovem significa a participação do jovem, o jovem fazer parte do processo, o jovem ser o processo. O escotismo existe por um único motivo, o jovem. Um ser que é passado, presente e também o futuro do escotismo. Se hoje a missão dos adultos, e agora me enquadro nessa categoria, é formar líderes para a sociedade, é também formar para o futuro do próprio escotismo.

E os problemas referentes a participação juvenil é como uma força oculta que por mais que busque explicações sobre certas coisas que acontecem no escotismo, você pensa, pensa, pensa, mas não encontra resposta possível pra entender. É apenas colocar o pé fora de casa e, aquele que quiser fazer mais pela sociedade, pelo jovem, por meio do escotismo, vai encontrar alguns muros no caminho difícil de serem ultrapassados ou derrubados. E de ultrapassado no escotismo já estamos superando bastante coisa, programa, profissionalização, vestuário... mas ainda falta, talvez, um dos principais, ouvir o jovem. 

Curioso pelo que pode acontecer na Argentina, ansioso pelas mudanças necessárias de lideranças no escotismo por aqui. Em especial o nível local.

Post Bele >> AQUI
POR >> AQUI

E falando em Rede, está acontecendo a Campanha de Natal com a APAE. Mais informações AQUI
E para acompanhar a movimentação na Argentina só procurar pela hastag #votojoven AQUI


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O mais humilde uniforme no Congo



Todo tipo de soldado anda ao redor da cidade de Goma. Os militares, a polícia, as forças de paz da ONU e soldados. E depois há os escoteiros. Trazido da África do Sul no início de 1900, o Movimento Escoteiro e de Guias (Boy Scouts and Girl Scouts) sobreviveu através de guerras e de censura, fornecendo uma estrutura para a juventude em um país instável, e uma alternativa à violência. A partir de 2010, o país contava com mais de 71 mil escoteiros. A fotográfa Simone Bazos viveu na República Democrática do Congo, durante seis meses em 2013. Intrigado pela modéstia e o senso de comunidade, ela passou um tempo dentro do escotismo. 



Como foi trabalhar no Congo? É realmente o lugar mais inspirador e belo que eu já estive. Eu cobri o fim da guerra e ao mesmo tempo que era um trabalho muito emocionante, desejo que eu poderia ter ficado mais tempo para ver como as coisas se desenvolveram depois que foi oficialmente terminada. Eu tenho ficado em contato com a maioria dos meus amigos lá e parece que muito já mudou.


Como foi o seu primeiro encontro com os escoteiros? Eu sabia que eles saiam nas manhãs de domingo para fazer segurança em igrejas na cidade. Então eu saí de casa por volta das 6:30 em um domingo de manhã, mal andei um quilômetro antes de encontrar uma tropa marchando no meio da estrada. Eu pedi para falar com o seu líder, o garoto mais velho, ele tinha 16 anos. Perguntei se eu poderia tirar algumas fotos, ele disse que sim. Comecei a ir às suas atividades, sempre que podia; Eles ficaram felizes alguém tinha interesse neles.


Que tipos de atividades que eles faziam? A necessidade de um grupo como os escoteiros foi definitivamente maior por causa da guerra. Eles são um pouco estimulados pelo militarismo, mas são crianças de bom coração, que precisam de estrutura e uma saída. Uma boa parte de suas atividades eram música e dança. Às vezes, um dos líderes tinha um livro e lia para as outras crianças, às vezes, as histórias da Bíblia, às vezes, um livro de antigo de escotismo. A maioria das ativiades tinham uma lição ao final. Se ele não estava lendo, então talvez o líder iria falar sobre as plantas medicinais, ou como ajudar a cuidar de idosos. Algumas vezes haviam demonstrações de como forma de fazer uma maca usando seus lenços e algumas bananas. Foi principalmente muita coisa prática.


Quem eram os líderes? Havia três ou quatro jovens líderes por tropa. A maioria deles não estavam mais na escola. Um vendia amendoins na rua, outro trabalhava fazendo pequenas construções no depósito de madeira de Goma. Os líderes ajudavam as crianças pequenas a amarrar os sapatos, colocar seus chapéus e lenços corretamente. Eles eram muito humildes. Havia um monte de adolescentes em Goma que não eram como eles, que estavam muito ligados a moda e esportes, como a maioria dos adolescentes em qualquer lugar. Mas os adolescentes mais velhos nas tropas pareciam realmente especiais para mim. Eles queriam transmitir bondade nos outros mais jovens - o mais novo tinha três anos. Quanto aos líderes adultos, eles tinham idades compreendidas entre os vinte e sessenta anos. Uma vez escoteiro no Congo, sempre escoteiro. Muitos até se casavam e eram enterrados em seus uniformes escoteiros.


Você conhece um pouco sobre a história dos escoteiros no Congo? Um dos adultos me contou a história como ele sabia disso, mas eu realmente não fui verificar. Aparentemente o Escotismo chegou ao Congo em 1924, em Lubumbashi. Ele havia mudado um pouco da África do Sul, onde foi introduzido um pouco mais cedo. O livro de Baden Powell "Aids to Scouting" foi levado para a África do Sul em 1907. Os Escoteiros também foram proibidos por 14 anos, creio, provavelmente no governo de Mobutu (presidente do Congo entre 1965 e 1997). Ele substituiu o Movimento Escoteiro com outro grupo nacional de jovens. Há uma característica muito religiosa no escotismo ainda hoje, ao menos em Goma.



Por que fotografar os escoteiros? Na sua opinião, como você acha que eles se encaixam dentro da história deste país? Os escoteiros são icônicos. Eu nunca fui uma bandeirante/guia. Lembro-me de minha mãe me contando histórias sobre quando ela foi. Desde criança eu não tinha idéia de que os escoteiros eram uma organização internacional. E nos últimos anos, houve tanta controvérsia em torno deles nos Estados Unidos. Eu só queria ver que tipo de coisas eles fariam em um lugar como o Congo. Gostaria de saber se os escoteiros do Congo estavam amarrando nós, armando barracas e limpando a floresta. Eles estavam fazendo algumas das coisas que eu associava a imagem estereotipada do escotismo, mas também fizeram muito mais. E o que eles fizeram foi totalmente reflexivo de seu ambiente. Meu principal interesse no Congo geral foi como a vida continua durante o tempo de guerra. Os escoteiros foram um grande exemplo disso. Eles ainda tinham suas atividades. Um dos adultos estava me dizendo como eles ainda faziam suas atividades, até mesmo quando o Movimento 23 de Março (o Exército Revolucionário do Congo) tomaram a cidade de Goma em novembro de 2012. 


Como era a rotina naquela época? A vida continuou como de costume para a maioria das pessoas. Pelo que eu entendo, o Exército Revolucionário apenas criou estruturas temporárias, usando seus soldados como policiais. Muitos dos meus amigos que estavam lá durante a tomada da cidade disse que tudo foi praticamente o mesmo, apenas com diferentes pessoas e uniformes. Eu acho que especialmente para um lugar que tem estado em conflito durante tanto tempo, torna-se normalizados para um determinado grau. A cidade em si é muito isolada também. As pessoas que moram a apenas 15 quilômetros fora de Goma tiveram uma experiência totalmente diferente. Enormes quantidades de pessoas na província de Kivu do Norte foram deslocados internamente. Dirigindo por essas áreas, enquanto o conflito ainda estava acontecendo era estranho, como aldeias fantasmas. Foi muito interessante, porque você ouvia uma grande explosão, mas pelo que eu vi, as pessoas eram inabaláveis​​. Eu fui a alguns dos locais que foram bombardeadas na cidade logo após o ocorrido e havia pequenas multidões fora olhando para o que aconteceu. Parecia como um espetáculo para aqueles que não foram afetados diretamente. Poucos dias após, os atentados pararam, houve grandes protestos na cidade contra a ONU. A população sentiu não estavam fazendo o suficiente para protegê-los. Mas no dia seguinte, todo mundo voltou ao trabalho e foi como se o protesto nunca tivesse acontecido. 



Como é que o país mudou desde então? Uma das maiores mudanças que eu vi foi na semana após a guerra ter terminado oficialmente. Eu acompanhava o comboio da ONU através de toda a província e foi uma das coisas mais incríveis que eu já experimentei. As pessoas tinham começado a voltar para casa pela primeira vez por muitos anos. As aldeias fantasmas foram finalmente repovoada. 


Você disse que a necessidade de um grupo como os escoteiros foi maior por causa da guerra, o que você quer dizer com isso? Não havia muito para as crianças fazerem, em grande parte, por causa da guerra e das instituições falidas do país. Por causa da falta da presença da família, escolas e outras atividades, a necessidade de um grupo como os escoteiros foi muito maior. O escotismo fornece estabilidade, um ambiente social e saudável, um propósito para as crianças que de outra forma, em grande parte se sentiam insignificante. Além disso, eles olham para os soldados e querem ser parte de algo maior que eles mesmos. O escotismo lhes permite fazer isso sem colocar-se em perigo. Um dos líderes escoteiros adultos com quem conversei me disse que ser escoteiro impediam muitas crianças se tornarem soldados.


Como as pessoas mudaram, agora o clima político é diferente? Mesmo com o fim da guerra, você não consegue dizer que o Congo é pacífico. Os escoteiros tiveram um grande papel em capacitação, caridade, desenvolvimento e sustentabiliade - eles passariam algumas tardes coletando lixo e limpando a cidade - então eles ainda têm uma missão importante e há muito trabalho a ser feito. Eu acho que é realmente interessante que, em Goma, um lugar com centenas de ONGs e uma das maiores presenças da ONU no mundo, os escoteiros não são financiados em tudo o que precisam. Uma das tropas com quem passei muito tempo, a cada vez que se encontravam devia, cada membro, trazer um pedaço de carvão. Ao final de duas semanas, um garoto começou a levar para casa a grande pilha de carvão. O senso de comunidade entre as crianças foi tão desenvolvido, definitivamente, mais do que qualquer criança que já encontrei ao voltar para os Estados Unidos. Eles realmente me inspiraram. 




Fotos: Simone Bazus

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O dia após o Congresso Regional 2014

Uma vez eu era um hatter, reclamava de tudo e mais um pouco. Dai me convidaram para ajudar e participar. Dai com o tempo fui crescendo, em idade, em ideias, em participação, em trabalho, amadurecendo. Em vez de reclamar, era - e continua sendo - melhor colocar a mão na massa e fazer parte das mudanças e dos processos de criação, organização, opinião. Então nesse final de semana cheguei no 5º Fórum, Congresso e Assembleia Regional que tive oportunidade de participar. Em 2010 eu era o sênior (sim, como sênior) perdido e sozinho, e a cada ano que passava a missão era levar cada vez mais pessoal de Caxias, principalmente jovens. Em 2014 tivemos o maior número de participantes jovens em um evento do tipo, de Caxias e também da Região do Rio Grande do Sul. Alguns como delegados, outros que foram eleitos delegados, mas que infelizmente não puderam cumprir com a sua função. Uma renovação e participação sensacional para o escotismo gaúcho e brasileiro. Claro que nessa edição em especial tiveram algumas questões de custo, distância, período, que podem em alguns casos não ter permitido numero maior de participantes. Enfim, mais do que a participação nos outros quatro Congressos, creio que esse em especial foi o mais importante e que representou uma grande mudança na forma de fazer escotismo, e de interesse na participação do jovem na Região, mas principalmente no Distrito e na vida de Grupo.

Esse foi o Congresso que menos vi acontecer bem na verdade, envolvido com a Equipe de Comunicação Regional auxiliando na cobertura e na transmissão dos eventos, quase não deu para ter uma pausa ou ver o que estava sendo divulgado em cada palestra. Nessa minha nova fase no escotismo, sem um Grupo todo sábado, ver o escotismo crescendo, profissionalizando-se, melhorando suas ideias, a pratica de fazer a diferença na sociedade, mas acima de tudo, pensando e desenvolvendo cada vez mais e melhores atividades para cada jovem desde o lobinho até o pioneiro, e ver 350 adultos interessados em aprender mais, conhecer mais e voltar para o seu Grupo querendo mais, esse também foi outro resultado muito gratificante de ajudar a fazer e estar presente no Congresso.

Em setembro do ano passado, quando tive oportunidade de participar da Conferência Interamericana em Buenos Aires, no Fórum de Jovens foi bastante falado de que “o incentivo a participação juvenil é uma das tarefas mais importantes do escotismo”. E o incentivo está sendo feito no escotismo brasileiro, ele vêm aumentando, as formas de comunicação e interação ajudam nesse processo. Porém, muita coisa depende ainda mais do que o interesse do jovem, é ele saber que tem esse espaço para participar, e os responsáveis por isso abrirem o espaço ou os canais de relacionamento para tal, o que infelizmente não acontece em todos os níveis.

Ao voltar desse Congresso voltamos todos com aquele espírito de que “estamos fazendo o escotismo que queremos”, frase que automaticamente remete a atual Diretoria do Rio Grande do Sul, que tem entre suas características principais, a participação do jovem. Esse ano foram 12 da Serra, que no ano que vem sejam 24. Esse ano havia aproximadamente 80 participantes no Fórum de Jovens, que no próximo ano esse número chegue ao dobro. Esse ano foram eleitos de 11 delegados do RS para Assembleia Nacional seis jovens, que no próximo ano aumente. Esse ano foram 350 jovens e adultos presentes no Congresso, que cada vez aumente mais. Esse ano somos em 10.679 escoteiros em todo o estado, e que com cada vez mais jovens e adultos preparados, que é o objetivo de um Congresso, e trabalhando juntos, possamos crescer cada vez mais.

Ao final do primeiro evento do ano não sei muito o que falar. Apenas que ver essa foto e as pessoas que aparecem, e pensar que cada vez mais a quantidade e qualidade de pessoas participando, é o que vai garantir o crescimento do escotismo e a certeza de que estamos fazendo bem a nossa parte. Como disse uma das pessoas da foto ao final da sua primeira Assembleia "cara, agora eu tive noção de que nós somos o futuro do escotismo e que temos muito trabalho pela frente". Pois é, bastante trabalho pela frente, com muitas atividades, e pensando em como melhorar cada vez mais para cada lobinho, escoteiro, senior, pioneiro que for chegando em cada Grupo querendo saber mais sobre essa tal história de ser escoteiro e ajudar a construir um mundo melhor.  Um bom início de ano escoteiro SAPS!

Gabriel Rodrigues
Foto: Áquila Paz da Rosa